Na
tela do computador, há tempos me assombra a sombra de uma folha de papel em
branco. Pensamentos soltos perambulam pela página vazia. Alguns a tocam, mas
logo levantam voo. Exaustos de planar sobre a areia movediça das reticências,
para onde irão?
Faz
frio. Chuva fina da manhã deixou-me um olá sussurrado em gotículas no vidro da
janela do meu quarto. Efeito orvalho na flor de pétalas transparentes. As
flores de vidro não sentem frio. Ou sentem? Por onde vagueia o pensamento das
flores enquanto o vento gelado balança o sono das hastes que embalam seus
sonhos?
Pequenas
margaridas plantadas em um vaso de plástico pediram-me que as trouxesse para
minha casa. No último sábado, meu pensamento esbarrou com o pensamento delas
enquanto eu caminhava distraída em meio às tendas do mercado.
Fascina-me
o mistério do silêncio dos lírios. Encanta-me a elegância das tulipas. No
entanto, as pequeninas e singelas margaridas sabem que lhes devoto um amor
singular. E, talvez, pelo pacto secreto desse afeto implícito, elas me
encontraram no sábado porque desejavam estar aqui, no árido momento da folha em
branco. Margaridas são como a música que acolhe os pensamentos que as palavras
não capturam...
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