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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Praticando o gentilês


 



A gentileza é uma língua semimorta.
Muitos até a admiram, gostam de ouvi-la.
Mas são raros os que a dominam: agem em gentilês.
A estupidez humana alimenta-se do egoísmo, da prepotência,
da pseudossuperioridade: da ignorância.
Quando afrontada pela estupidez, tento ser gentil comigo mesma: silencio.
Mas isso é omitir-se! Sentencia a arrogância.
Silencio.
O mundo já tem ruídos demais.


domingo, 16 de setembro de 2012

Para a aniversariante de hoje


Para Raquel Leidens
Para o mais belo presente que a Natureza me deu numa certa manhã de setembro,
hoje, nesta outra manhã de setembro, desejo de presente apenas a celebração de raros tesouros.

 
Desejo
que em meio aos tantos projetos e conquistas profissionais
em meio à pressa, à espera e à angustia de uns e outros dias
amanheçam em tua vida muitos e serenos dias de primavera com sabor de fim de semana

Desejo
saúde plena
ao nascer e findar de cada dia
a mesa e a vida sempre rodeadas de verdadeiros amigos
manhãs de domingo no parque
prazer dos pés descalços sentindo o carinho da grama
risos de crianças
canção de ninar
cara lambuzada de sorvete
canto de passarinhos
tardes de preguiça
boas histórias pra ouvir e contar
banho de chuva
cheiro de terra molhada
comer fruta no pé
caminhadas no meio do mato
mergulho num riacho de água cristalina
sombra aconchegante de árvores centenárias
êxtase de contemplar
finais de tarde de céu exibido
com pôr de sol de um lado
e  lua prateada do outro
madrugadas quentes pra dormir ao luar
longas noites de inverno pra namorar
e ao som de chuva mesclando-se ao crepitar do fogo na lareira
entregar-se ao sono tranquilo dos que sentem dentro si
acima de qualquer medo
acima de todas as nuvens
a certeza de um céu sempre bordado de estrelas
a certeza de que todos os sonhos que sonha juntos amanhecem realidade...

Um brinde à Vida! Um brinde ao Amor! Saúde!
Obrigada por ter escolhido meu ventre como ponte para você chegar a este mundo, numa certa manhã de setembro.
Te amo! Sempre e incondicionalmente.

 
 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

coisificando-se



o mundo gira alucinado
em torno de uma excitante vitrine de coisas
nossa boca enorme baba diante delas
insana gula de possuí-las nos consome
enquanto mãos invisíveis nos moldam
para sermos objetos exibidos na mesma vitrine

as coisas nos engolem pouco a pouco
uma boca insaciável nos tritura
e vomita em série
seres coisificados
admirados e copiados por tolos semelhantes

seres-coisa
insuflados por deuses de barro
cultuados por ídolos ocos

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As contas do tempo



Fim de tarde. Crepúsculo de mais um dia. Tanto faz ser rei e rainha ou ser, simplesmente, João e Maria. O Sol nasce e se põe para todos. E o fim de tarde desce as cortinas de mais um dia.
Mais um ou menos um dia? Como entender o paradoxo do tempo que acrescenta enquanto subtrai. Entre as contas do mais e do menos, esvai-se o nosso tempo. Esvai-se inexoravelmente, escorrendo-nos pela areia que o conta.

Para onde deslizam as águas do tempo-enquanto? Quem sabe, escorrem e nos levam no ir-e-vir de suas ondas para os nunca antes navegados mares-quando. Parece que estamos sempre à espera de um quando. Há tanta gente que espera, até desesperadamente, um novo dia, um novo emprego, um novo amor, um novo lugar, um novo esperar, um novo tempo...
O que será o novo? Talvez seja apenas uma roupa mais leve e suavemente colorida que fiamos com o desfiar dos dias. Tecemos o novo enquanto sonhamos vesti-lo para dançar a música de um amanhã que flutua sobre o intangível horizonte do tempo. E, ao nascer desse dia, quem sabe, ao som da sinfonia das horas vestidas, celebre-se a nudez de tudo o que se viveu. Quem sabe, então, apenas se brinde ao que, enfim, percebemos (re)novar-se, (re)avivar-se em nós.

Talvez o novo seja apenas essa angústia ancestral da eterna busca de nós mesmos, que camuflamos no desejo de algo que ainda não alcançamos e que pensamos saber o que é.