Fim de tarde. Crepúsculo de mais um dia. Tanto
faz ser rei e rainha ou ser, simplesmente, João e Maria. O Sol nasce e se põe
para todos. E o fim de tarde desce as cortinas de
mais um dia.
Mais um ou menos um dia? Como entender o
paradoxo do tempo que acrescenta enquanto subtrai. Entre as contas do mais e do
menos, esvai-se o nosso tempo. Esvai-se inexoravelmente, escorrendo-nos pela
areia que o conta.
Para onde deslizam as águas do tempo-enquanto?
Quem sabe, escorrem e nos levam no ir-e-vir de suas ondas para os nunca antes
navegados mares-quando. Parece que estamos sempre à espera de um quando. Há tanta
gente que espera, até desesperadamente, um novo dia, um novo emprego, um novo
amor, um
novo lugar, um novo esperar, um novo tempo...
O que será o novo? Talvez seja apenas uma
roupa mais leve e suavemente colorida que fiamos com o desfiar dos dias.
Tecemos o novo enquanto sonhamos vesti-lo para dançar a música de um amanhã que
flutua sobre o intangível horizonte do tempo. E, ao nascer desse dia, quem sabe, ao som da
sinfonia das horas vestidas, celebre-se a nudez de tudo o que se viveu. Quem
sabe, então, apenas se brinde ao que, enfim, percebemos (re)novar-se, (re)avivar-se
em nós.
Talvez o novo seja apenas essa angústia
ancestral da eterna busca de nós mesmos, que camuflamos no desejo de algo que
ainda não alcançamos e que pensamos saber o que é.