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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

pequeninas







se eu gosto de flores?
amo tulipas
amor-perfeito e lírios
ah, como eu amo os lírios!
mas desde sempre
encantam-me as margaridas

quando eu era criança
chamava de margarida
a delicada flor da camomila
e também a flor gigante do girassol

ah, a flor da camomila?
eu a chamava de margaridinha
mas eu amava
e como amava
terna e secretamente
as pequeninas

 pequenina
era uma flor minúscula
vestida de tons violeta
que cintilavam sonhos
no lume dos pirilampos
tão pequeninha era a flor
que gente grande sequer a via
florescendo escondidinha
debaixo do vasto verde da grama

 lembro que eu me deitava
e rolava lentamente
sobre a maciez do campo gramado
e ia garimpando pequeninas

então
eu as acolhia entre os dedos da minha mão esquerda
e me deixava ficar ali
aninhada no colo do tempo sem-fim
ternamente conversando
com a meiguice
daquele ser tão frágil

 e...
com a minha mão direita em conchinha
eu fazia um berço aconchegante
e nele
de-li-ca-da-men-te
eu deitava as pequeninas
uma-entrelaçada-à-outra
e cuidava...cuidava... e cuidava
para que o vento não as acordasse
com seu sopro forte e desavisado
eu não queria que os seus sonhos
murchassem tão rápido

e...
como se houvesse apenas
aquele lugar e momento
eu me deixava ficar ali
encolhida no regaço do espaço-tempo
contemplando embevecida
o sonho violeta das pequeninas
ninando-me serenas em sua conchinha

ainda hoje
nos dias em que a vida
se tinge de cinza-desencanto
murmuro uma canção de acalanto
adormeço-me de quando em quando
sonho comigo e me aninho
no tempo-lume dos pirilampos
acolhe-me sempre
no ventre verde do campo
uma ciranda violeta de pequeninas
ninando-me docemente
na concha secreta dos meus dias



















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